sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Conto - A Rosa

Ella era uma menina de beleza comum, hábitos comuns, atitudes comuns - ordinária.
Estudava de manhã, curso preparatório para o vestibular, curso este pago com seu trabalho, atendente de telemarketing. Passava a manhã ouvindo os professores tentarem explicar a teoria Marxista ou forçando-a a encontrar o valor de X.Oras,se nem o professor que passou cinco anos de sua vida numa faculdade pública conseguia encontrar o tal X,porque obrigar-la a fazê-lo?Coitada, saia enjoada da aula e logo tinha que entrar no Call Center para passar mais seis horas ouvindo, não teorias acadêmicas, mas problemas da vida real. Sim. Ouvir sempre foi o que fez de melhor.
Ela poderia ser minha vizinha, minha prima, minha irmã. Eu poderia ser Ella.


E assim, seguia com sua medíocre vida. Noites brancas, dias confusos e um nó no peito.
Mas,o que faz Ella digna de ter sua história contada?Amor. Amor e as perdas que ele impõe.
Cinco e meia da manhã e Ella já tem que estar em pé, pronta para mais um dia corrido, seria bom se pudéssemos estar em dois lugares ao mesmo tempo, entretanto, isso só é possível em contos infantis sobre bruxos e seus giradores de tempo. Três conduções após uma água suja ingerida sob o nome de café é o suficiente para iniciar bem o dia.A noite mal dormida,pois passou boa parte da madrugada em ato hipócrita – Ella tentou descobrir o valor de X,sem sucesso.E o que era regular,passou a ser insignificante,uma menina comum sentada no fundo de uma sala de aula tentando absorver algo sobre química.E foi ai,em um dia vulgar, que ele viu ela.
Continua.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Lama

Mais um dia quente e seco de verão em que os corpos suados seguem monotonamente suas vidas. Tão chato. Aliás, ultimamente tudo está frustrantemente aborrecedor.
Pessoas falam, mas falar é barato, qualquer um pode. O que quero é fricção, o impulso gerador da ação para sairmos dessa inércia mortal. Sinceramente estou cansada dessa mesmice, do local comum onde ninguém ou não pode ou não quer,acredito na segunda opção, ajudar os outros. E assim seguimos com esse gosto amargo na boca e um grito contido de basta!
Mas é tão cômodo, tão mais fácil se deixar seduzir pela não-ação.
Particularmente prefiro os céus ao chão e eu, como um lótus, tento sobremaneira romper toda essa podridão que me cobre como lama.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sonho Adolescente

Gotas frias percorrem o corpo dela em seu banho a luz de velas, não por luxo, mas por necessidade. Vagarosamente esfrega o pouco sabão que ainda tem em casa com algo que um dia foi uma bucha vegetal. O dinheiro é curto, a vida é curta – ela é curta. Vicissitudes da vida... Compromissos, contas a pagar, uma imagem a refletir para os outros agradar e assim, pelo menos, tentar sobreviver. Para onde foram todos os seus sonhos de adolescente?E todas suas promessas de finais felizes?Ela tenta, realmente tenta vasculhar cada canto do seu ser em busca de uma resposta. Sem sucesso. Pega a toalha úmida e enrola-se nela, sente-se confortável, pois certamente o abraço molhado dessa toalha é mais caloroso do que muitos que já tivera. Como ela gostaria de continuar se envolvendo nesse pedaço de pano e ao fim parecer uma crisálida. Sim. O desejo de transmutação, tornar-se algo melhor do que se é.E ao romper essa casca molhada, abrir suas asas e alçar vôo. Voar, voar o mais alto possível, para bem longe dessa vida curta e alcançar seu sonho adolescente perdido com um final feliz.

Cravos

Sentada na varanda de sua casa, envolta pelo perfume dos cravos recém desabrochados, ela percebe como a vida é divinamente cruel. Tudo parece estar em seu devido lugar. Mas, se tudo está em perfeito equilíbrio, porque sentir falta de algo?Alguma coisa insiste em perturbá-la, tira-la desse estado de paz interior que a custo tão alto conseguiu. O que será?Possui um emprego normal, um família normal, uma vida normal. Como ela tenta descobrir o que a deixa esmorecida por dentro, esse buraco que a cada dia consome mais e mais a esperança que outrora teve. Lembranças?Lembranças de alguém que nunca conheceu ou falta daqueles que um dia estiveram tão próximos que puderam ser chamados de amigos. Ela não sabe.
O tempo passa. A vida passa. As flores murcham. Ela permanece... Permanecer, foi isso que fez toda sua vida, com medo de se machucar ou ferir quem amou nunca se arriscou. E assim tenta progredir com o que possui. Sonhos, desejos, criatividade, tudo trancado numa valise guardada onde nem mesmo ela se lembra. Tanta dor, tantas perdas, fez tudo por altruísmo e hoje sua única companhia são seus efêmeros cravos, brancos como as lágrimas que inúmeras vezes derramou.