sábado, 19 de novembro de 2011

Goela

Escrevo com a intenção de me conhecer melhor. Não tenho a pretensão de ficar famoso, ou mesmo de mudar o mundo. Busco apenas a alteração do meu mundo, do que se passa dentro de mim – no meu coração.

O tempo passa, o relógio segue diariamente sua labuta e assim sigo também. Horários, datas, locais, compromissos. Pessoas falando e não dizendo nada, absolutamente nada além de bobagens das suas vidinhas medíocres. Tanto egoísmo. Adoram violentar as pessoas, fazendo-as engolir a força tudo o que desejam – goela abaixo.

E assim vamos absorvendo essa merda imposta que vai se acumulando e entupindo nossa garganta, dificultando nossa respiração. Como dói o nó que se forma na garganta.
Parece que fui perdendo a fibra, fibra moral, amolecido pela vida e as vicissitudes inerentes a ela. Cansei de engolir todos os sapos, está na hora de vomitá-los.

Sinceramente, não me importo mais com o que os outros vão pensar de mim.
Digo em bom e claro português: Vão tomar no cú seus filhos da puta!

sábado, 22 de outubro de 2011

Coração

Nada me agrada ultimamente, as pessoas, os lugares, o tempo, o ônibus – eu mesma.
Tudo está tão insípido, banal. Olho para o reflexo no espelho e a imagem que vejo não me agrada. Eu tento, realmente tento ser a melhor, dar o melhor de mim, mas isso parece não ser o suficiente.
Não estou sendo pessimista, longe de mim, apenas estou cansada dessa vida. É cruel quando temos que levantar enquanto permanecer na cama é a melhor escolha.


Um rosto bonito, um corpo elegante, os velhos e os novos amigos reunidos na sua festa de aniversário comemorando mais um ano de sobrevivência. Certamente, sobreviver a si mesmo é a maior batalha que haverá, seu ato heróico.
Ouço trovões,será o tempo ou a exteriorização da minha tormenta interior?Não sei responder.
Fecho os olhos e sinto o vento frio tocar minha face me lembrando que ainda vivo, que ainda sinto... Sinto veemente a falta de algo, alguma coisa que um dia tive. O que?

Toco meu peito e percebo que há um vazio onde um músculo deveria pulsar e isso me deixa impressionada. Não tinha notado que meu coração havia se perdido.
Logo entendo o mistério: Meu altruísmo me fez perder tudo,minha família,meus amigos,meu amor-meu coração.
Doravante isso seja perturbador,eu não me importo.Prosseguirei na minha jornada em busca de mim mesma.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

III Conto - A Rosa

O trabalho no callcenter era ruim, não pelas condições de trabalho em si, mas por sua frenética repetição. Todo dia a mesma coisa, os mesmos procedimentos, as mesmas mentiras, o dito pelo não dito – os mesmos erros. Seis horas de trabalho monótono para receber um salário baixo e sobreviver. Ainda bem que ela recebia os tickets alimentação assim não passava fome e tinha como manter seu único luxo: livros. Ella sempre gostou de literatura e todo mês comprava um bom livro para acompanhá-la aonde fosse.
Os livros sempre foram seus melhores amigos e affaires. Sempre que tinha um tempo livre, lia para fugir da cruel realidade e do mundo hostil que não se encaixava. Ou melhor, ela quem nunca se encaixou no mundo. Será que por ainda acreditar nos romances que lia em seus livros e sonhar com um príncipe encantado que algum dia viria e a resgataria desse lugar insípido levando-a em seu cavalo onírico a uma terra distante onde ela poderia ser quem realmente é, sem máscaras ou rótulos, apenas para viver seu amor e nele ser livre. Será que isso era querer demais?Claro que não, no fundo Ella sabia que os homens nasceram para ser felizes e amarem, pois o mundo como conhecemos nasceu de um ato de amor e assim devemos prosseguir - em amor.

Pequenas gotas de chuvas caem no vidro da janela do seu escritório descrevendo movimentos circulares e, quem sabe por ironia do destino ou capricho de uma Deusa do amor, um pequeno coração.
 “Yoshio, deixe de ser bobo.” Tentava em vão tirá-la da mente. Mas como exorcizar um fantasma da cabeça quando ele já se apoderou do seu coração?
”Desde que ela começou a freqüentar o curso preparatório para o vestibular não consigo pensar em outra coisa a não ser ela, posso ate dizer que quando olho pela janela vejo nas gotas da chuva seu olhar distraído para algum lugar além da capacidade de um homem, o mundo dos sonhos.”
-Yoshio,terminou os relatórios que te pedi?
-Quase pronto senhor.
-Ótimo, assim você também poderá ir ao lançamento do novo produto. – Disse Kazuo Yamamoto, diretor de uma multinacional no país e que sempre foi conhecido por suas habilidades nos negócios e sua conduta rígida na empresa. Brilhante homem que sempre fez acontecer tudo o que desejou até hoje em sua vida. Homem que estabeleceu um império com sua família, colocando seus filhos mais velhos em pontos estratégicos na empresa. Homem que sempre teve o poder sobre tudo. Homem esse pai de Yoshio. – Tenho uma reunião agora. Encontro você no evento.
-Estarei lá. – Respondeu Yoshio.

-Vamos Camila, corre ou vamos perder o ônibus! - Disse Ella correndo e pisando nas poças que a chuva deixou.
-Estou indo menina, calma!Senão estrago meu cabelo! – Comentou Camila colocando uma sacola plástica na cabeça seguindo Ella até o ônibus.
Uma vez dentro da condução, após uma verificada rápida se nenhuma gota d’água estragaria seu cabelo, Camila guardou a sacola no bolso.
-Mila e seu cabelo. – Falou Ella rindo.
-Meu bem, sou prevenida. Após horas no cabeleireiro você pensou mesmo que eu iria perder minha escova?Nunca precisei! – Disse Camila rindo alto.
Camila sempre foi alto astral, aquele tipo de pessoa que se pode contar para qualquer coisa. Um sorriso aqui, um xingamento ali, um pouco de bebida alcoólica e bom humor: essa era Camila, ou Mila, para os íntimos. A vida nunca foi fácil para Mila. Um namorado que vivia enrolando ela, muitas contas a pagar, um emprego que não gostava e uma mãe alcoólatra. Tudo para ser uma pessoa carrancuda e ruim que escolheu a alegria como sua espada e a amizade como escudo. Duas meninas diferentes que se atraíram desde a primeira vez que se viram, mas não é assim que longas amizades acontecem, sem explicação?Sim. Camila e Ella eram boas amigas.
-Mila, até amanhã. Tenho que estudar matemática. – Comentou Ella com cara de nojo.
-Sei bem que você vai estudar matemática. –Ironizou Camila – Até amanhã garota, se cuida. –Colocou a sacola plástica na cabeça e saiu correndo para pegar o outro ônibus.
-Tchau amiga, se cuida. - Disse Ella acenando para Mila que sequer podia ouvi-la.

Abriu o guarda-chuvas e saiu observando o asfalto molhado e a quietude que pairava sobre a rua como manto. O cheiro de terra molhada invadia suas narinas com a promessa de vida e no fundo Ella sabia que embora achasse que não encaixava nesse mundo ela era o mundo. Sorriu momentaneamente com o calafrio que subiu por suas costas e logo se lembrou que teria que estudar matemática. Que tédio.


Continua.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

II Conto - A Rosa

Ele, a uma distância segura finge ler algo em seu caderno, um pretexto apenas para vê-la olhando através da janela. O que será que ela está pensando?Certamente as nuvens tempestivas lá fora são mais interessantes que a aula de química.
O sinal toca anunciando a chegada do intervalo. Todos se levantam e uma explosão de vozes e risos preenche toda a sala.


Ele, por nome Yoshio,sente graça ao ver que a menina perdida em devaneios nem se mexe,parece não se importar com esse mundo. Aos poucos, como se tomasse consciência do próprio corpo ela suspira profundamente e tira da bolsa um pequeno livro com uma pintura medieval na capa.
Interessante. Pensa Yoshio.
Ele pega uma barra de cereal em sua mochila, começa a comê-la e continua, discretamente, observando ela.
Seu celular apita. SMS. Ele lê. Compromissos e planos feitos pelo seu pai para ele. Será que algum dia ele poderá ser ele mesmo?Sem planos, compromissos, comportamento ou um manual de conduta eleito por outrem para guiar sua vida. Não. Finais felizes só existem nos contos.
 “Vocês estão liberados, o professor de matemática faltou.”-Informou alguém da coordenação.
Os alunos que estavam na sala pegaram seus materiais e saíram afoitos para avisar o restante da turma.
 “Graças aos Céus e a Terra não vou ter que aturar matemática hoje.” Pensou Ella pegando seus materiais e colocando-os na bolsa. Olhou novamente pela janela e saiu antes que começasse a chover. Longo percurso até o trabalho. Pelo menos teria mais tempo para almoçar. Sorriu com esse pequeno prazer, um pouco mais de tempo para ela.

Ella andava apressada por entre a multidão que insistia em sair às ruas nesse tempo ruim. Os ventos tempestivos fustigavam violentamente as árvores. O céu, de um cinza lúgubre, ameaçava a população com a promessa de uma enchente.
Uma enchente para transbordar todo esgoto.Sim.Como Ella gostaria que isso acontecesse com os humanos.Uma enchente que transbordasse toda podridão contida nas veias de cada ser humano,veias essas como canos caiados,que precisam ser lavadas.Isso sim seria bom.
Somente ela enxerga beleza na destruição.Sim.É preciso destruir algo para surja o novo.
Limpar todas as galerias interiores para que do charco nasça algo de bom.
“Possam os Deuses da chuva serem compassivos e terem piedade dos necessitados.”Pensou Ella entrando no Call Center para mais uma jornada de trabalho.

Continua.

Tempo

Tudo que ela queria era ter amigos, amigos de verdade, aqueles que mesmo com o tempo e a distância continuam com um sorriso no rosto e uma palavra de conforto. Seria tão bom voltar à infância e sair correndo na chuva, pisando nas poças e rindo, sujar-se de lama.
O antigo gosto de algodão doce e remédio para tosse. Lembranças.
 Memórias de algo bom que hoje machuca, uma dor excruciante, contida no peito, como se ela tivesse engolido uma bola de baseball.
Após longa data olhando os velhos álbuns de infância de seus antigos amigos ela percebe que algo está faltando.Creio que ninguém notou por ser pueril demais,mas ela,por ser sensível percebeu que o que faltava nos álbuns era ela.
Será que tudo o que tivemos foi apagado pelo tempo e eu,por ser insignificante desapareci junto?
Risos, conversa alta, uma dose de whisky e você é o máximo.
Todos te olham,te admiram,esquecem o passado e tiram uma foto linda,toda sorrisos,uma forma de eternizar o momento,apenas aquela fração vulgar de tempo que não serve para aplacar a dor interior.
Momento,felizes na fotografia,como se fossem imortais.Sem ressentimentos,sem contas a pagar,sem problemas,somente  um sorriso falso estampado na face para mostrar a alguém que eles existem.
Mas o que eles não percebem é que o tempo deles passou.
O que era lindo,ficou feio.
A cobiçada agora é rejeitada e mãe de três filhos.
O certinho está preso.
E o tempo implacável os amaldiçoou.Sim.Por matarem sua criança interior hoje estão velhos.
Mas ela que pelo tempo também foi esquecida,mudou.
Os quilos extras da adolescência perdeu e o cabelo pintou.
Deixou de querer agradar a todos e agora se valoriza.
Para infância perdida e as pessoas que a esqueceram ela deseja uma coisa:esquecimento.
Agora ela vai seguir sua vida sem estar presa ao passado.
De que adianta um fardo sobressalente?É chegada a hora de apagar aqueles que não acrescentam mais nada e deixar espaço livre para os novos que virão.
Ela com um sorriso aberto e o coração pronto.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Maria

Ele anda a noite buscando companhia. Já não suporta mais o dia, as pessoas, ele mesmo. Sua vida não passa de um acúmulo de tolices. Humano... Ele não consegue se lembrar quando foi a ultima vez que viu um.
Festas, luxo, pessoas, elas até podem te ajudar a suportar algo. É legal fingir ser o que não é até o momento em que a máscara cai e o que resta é você – vazio.
Passos lentos, noite fria, sua verdadeira amiga é a Lua que muda vela seu caminho. O silêncio é tão palpável que ele consegue ouvir um pulsar. Cansado de ser o cordeiro do sacrifício decidiu mudar.
O shorts encurtou.
As pílulas tomou.
O cabelo cresceu.
E ele percebeu.
Que o que estava errado não era o que estava fora.
Pois um mar turbulento promete calmaria.
Um dia foi João.
Agora é Maria.

sábado, 1 de outubro de 2011

Für Elise

Ouço um Für Elise ao fundo, sua suavidade e harmonia me embalam me tirando do cotidiano elevando-me ao onírico. Embora sua melodia seja leve e cativante sinto uma determinação brotar em mim. Assim deve ser, passos firmes, firmes como o dedo que dedilha tão prazerosa música. Poderá a vida ser tão sutil como Für Elise?Sim.
Depende do nosso modo em encarar as situações e sabermos que somos melhores que isso.
A cada nota soada, simples, porém bonita, percebo no meu intimo uma promessa:
Você pode.Você consegue fazer melhor.Seguir-lhe-ei o incentivo.
Sinto-me leve,como se uma Deusa me abraçasse,e pretendo continuar nesse estado.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Conto - A Rosa

Ella era uma menina de beleza comum, hábitos comuns, atitudes comuns - ordinária.
Estudava de manhã, curso preparatório para o vestibular, curso este pago com seu trabalho, atendente de telemarketing. Passava a manhã ouvindo os professores tentarem explicar a teoria Marxista ou forçando-a a encontrar o valor de X.Oras,se nem o professor que passou cinco anos de sua vida numa faculdade pública conseguia encontrar o tal X,porque obrigar-la a fazê-lo?Coitada, saia enjoada da aula e logo tinha que entrar no Call Center para passar mais seis horas ouvindo, não teorias acadêmicas, mas problemas da vida real. Sim. Ouvir sempre foi o que fez de melhor.
Ela poderia ser minha vizinha, minha prima, minha irmã. Eu poderia ser Ella.


E assim, seguia com sua medíocre vida. Noites brancas, dias confusos e um nó no peito.
Mas,o que faz Ella digna de ter sua história contada?Amor. Amor e as perdas que ele impõe.
Cinco e meia da manhã e Ella já tem que estar em pé, pronta para mais um dia corrido, seria bom se pudéssemos estar em dois lugares ao mesmo tempo, entretanto, isso só é possível em contos infantis sobre bruxos e seus giradores de tempo. Três conduções após uma água suja ingerida sob o nome de café é o suficiente para iniciar bem o dia.A noite mal dormida,pois passou boa parte da madrugada em ato hipócrita – Ella tentou descobrir o valor de X,sem sucesso.E o que era regular,passou a ser insignificante,uma menina comum sentada no fundo de uma sala de aula tentando absorver algo sobre química.E foi ai,em um dia vulgar, que ele viu ela.
Continua.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Lama

Mais um dia quente e seco de verão em que os corpos suados seguem monotonamente suas vidas. Tão chato. Aliás, ultimamente tudo está frustrantemente aborrecedor.
Pessoas falam, mas falar é barato, qualquer um pode. O que quero é fricção, o impulso gerador da ação para sairmos dessa inércia mortal. Sinceramente estou cansada dessa mesmice, do local comum onde ninguém ou não pode ou não quer,acredito na segunda opção, ajudar os outros. E assim seguimos com esse gosto amargo na boca e um grito contido de basta!
Mas é tão cômodo, tão mais fácil se deixar seduzir pela não-ação.
Particularmente prefiro os céus ao chão e eu, como um lótus, tento sobremaneira romper toda essa podridão que me cobre como lama.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sonho Adolescente

Gotas frias percorrem o corpo dela em seu banho a luz de velas, não por luxo, mas por necessidade. Vagarosamente esfrega o pouco sabão que ainda tem em casa com algo que um dia foi uma bucha vegetal. O dinheiro é curto, a vida é curta – ela é curta. Vicissitudes da vida... Compromissos, contas a pagar, uma imagem a refletir para os outros agradar e assim, pelo menos, tentar sobreviver. Para onde foram todos os seus sonhos de adolescente?E todas suas promessas de finais felizes?Ela tenta, realmente tenta vasculhar cada canto do seu ser em busca de uma resposta. Sem sucesso. Pega a toalha úmida e enrola-se nela, sente-se confortável, pois certamente o abraço molhado dessa toalha é mais caloroso do que muitos que já tivera. Como ela gostaria de continuar se envolvendo nesse pedaço de pano e ao fim parecer uma crisálida. Sim. O desejo de transmutação, tornar-se algo melhor do que se é.E ao romper essa casca molhada, abrir suas asas e alçar vôo. Voar, voar o mais alto possível, para bem longe dessa vida curta e alcançar seu sonho adolescente perdido com um final feliz.

Cravos

Sentada na varanda de sua casa, envolta pelo perfume dos cravos recém desabrochados, ela percebe como a vida é divinamente cruel. Tudo parece estar em seu devido lugar. Mas, se tudo está em perfeito equilíbrio, porque sentir falta de algo?Alguma coisa insiste em perturbá-la, tira-la desse estado de paz interior que a custo tão alto conseguiu. O que será?Possui um emprego normal, um família normal, uma vida normal. Como ela tenta descobrir o que a deixa esmorecida por dentro, esse buraco que a cada dia consome mais e mais a esperança que outrora teve. Lembranças?Lembranças de alguém que nunca conheceu ou falta daqueles que um dia estiveram tão próximos que puderam ser chamados de amigos. Ela não sabe.
O tempo passa. A vida passa. As flores murcham. Ela permanece... Permanecer, foi isso que fez toda sua vida, com medo de se machucar ou ferir quem amou nunca se arriscou. E assim tenta progredir com o que possui. Sonhos, desejos, criatividade, tudo trancado numa valise guardada onde nem mesmo ela se lembra. Tanta dor, tantas perdas, fez tudo por altruísmo e hoje sua única companhia são seus efêmeros cravos, brancos como as lágrimas que inúmeras vezes derramou.