quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cravos

Sentada na varanda de sua casa, envolta pelo perfume dos cravos recém desabrochados, ela percebe como a vida é divinamente cruel. Tudo parece estar em seu devido lugar. Mas, se tudo está em perfeito equilíbrio, porque sentir falta de algo?Alguma coisa insiste em perturbá-la, tira-la desse estado de paz interior que a custo tão alto conseguiu. O que será?Possui um emprego normal, um família normal, uma vida normal. Como ela tenta descobrir o que a deixa esmorecida por dentro, esse buraco que a cada dia consome mais e mais a esperança que outrora teve. Lembranças?Lembranças de alguém que nunca conheceu ou falta daqueles que um dia estiveram tão próximos que puderam ser chamados de amigos. Ela não sabe.
O tempo passa. A vida passa. As flores murcham. Ela permanece... Permanecer, foi isso que fez toda sua vida, com medo de se machucar ou ferir quem amou nunca se arriscou. E assim tenta progredir com o que possui. Sonhos, desejos, criatividade, tudo trancado numa valise guardada onde nem mesmo ela se lembra. Tanta dor, tantas perdas, fez tudo por altruísmo e hoje sua única companhia são seus efêmeros cravos, brancos como as lágrimas que inúmeras vezes derramou.

Um comentário:

  1. Lindo! Mas nada normal demais é empolgante o suficiente para sair de si e experimentar um estado de espírito desconhecido... empolgante.

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