sexta-feira, 29 de junho de 2012

Momento


-Gostou? Perguntou ela com um sorriso nos lábios e o coração na mão.
-Odiei. – Falou categoricamente ele, lhe devolvendo o manuscrito surrado. –Você pediu minha opinião, então tenho que ser sincero.
-Mas... - Começou ela sem jeito- Você leu tudo?
-Não consegui. – Disse com desprezo. - O último texto, sobretudo, é o pior. Céus! Não passei da primeira página. Mas continue escrevendo, é uma terapia, faz bem.
Ela não disse nada, apenas guardou o manuscrito na bolsa com tamanha delicadeza e graça como se fosse feito da mesma matéria etérea dos sonhos. E porque não seria?
Uma vez escrito, o sonho passa a ser tangível, suspiro, lágrima. É a expressão daquilo que não pode ser dito ou concebido e a única forma de saber-lo e sentir...
-Veja- Procurou ele um tom ameno na voz e prosseguiu- Se gosta mesmo desse tipo de literatura procure ler mais, pois você é muito passional em sua escrita, quase uma assassina. Tempere seus textos com mais poesia. Desculpe-me, esperava mais. – Passando o dorso da mão suavemente pelo rosto dela e olhando-a fixamente, concluiu. – Me seduza.
Por uma fração de segundo tudo parecia divino, a contemplação mútua. Um pequeno sorriso escapou pelo canto da boca dela enquanto sentava-lhe um tapa na cara.
-Sinta a poesia querido. Falou ela docemente girando os calcanhares e saindo dali.Talvez ele disse alguma coisa, mas ela estava longe demais para ouvi-lo, perdida que estava em seus sonhos.

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